
Em todas as cidades do Brasil as sociedades convivem com as dificuldades comuns a todo o país, falta água, calçamentos, investimentos culturais, um programa criativo de trabalho e renda que substitua doações dos governos, isso entre outras coisas que são consideravelmente relevantes no processo preocupante dos nossos fracassos, das nossas carências.
Destarte, muitos elementos podem ser considerados para justificar o atraso de uma cidade, de qualquer cidade, isso todo mundo sabe. Mas quais os elementos que você justificaria para sua cidade? Essa é uma pergunta difícil? Talvez sim, principalmente por causa das razões que nos impedi de responder, achamos sempre mais viável discutir os problemas do país e colocar os da cidade como conseqüência destes, é assim nas escolas, nas igrejas, clubes, associações e outras entidades possíveis, na hora do debate local, nos deparamos sempre com a indisponibilidade dos grupos sociais.
O silêncio das pessoas com relação às questões da cidade começa na família, segue para a escola e prossegue nas ruas, o desinteresse pela sociedade que nos rodeia evolui portanto para um problema de formação cultural, um processo em que vão ficando fora do nosso plano de vida tudo que é local, os times da cidade, as datas comemorativas, os símbolos, a história, os poderes, a fiscalização e acompanhamento do dinheiro público e tudo mais que interesse a cidade. Concomitantemente aparece a questão da política partidária, um instrumento de separação dos povos, onde se concentram nossas maiores diferenças.
Porém a diferença é absolutamente normal, o que não entra dentro dos padrões da normalidade é o fato de essa diferença prevalecer em tudo, inclusive no progresso da cidade. Se estamos falando de uma diferença política, que ela aconteça apenas nos momentos políticos da comunidade e não em todos os períodos, como acontece.
É preciso que haja entre os moradores de Assunção pontos em comum que possam reunir os diferentes pensamentos políticos em prol de melhorias coletivas. O que tento mostrar é que é natural a divisão (política/partidária), porém é preciso uma incipiente união em prol dos objetivos comuns, progresso econômico, cultural, social, e assim por diante.
Atualmente estamos atravessando um momento extremamente delicado no tocante a água do município, todos se encontram em situação de calamidade, é uma realidade que não dispensa ninguém, um problema comum as diferentes raças, aos cristãos católicos e evangélicos, e inclusive aos eleitores de uma e outra facção. Por tanto uma excelente oportunidade de as pessoas se unirem em prol da resolução dessa situação. Ações conjuntas entre poderes públicos, partidos políticos, associações de moradores, igrejas, clubes, toda a comunidade pelos seus diferentes setores a favor da água. Isso era o que deveria acontecer.
Mas o que ocorre realmente é que nem as dificuldades que atingem a todos os uni. Há pessoas que preferem que problema não seja resolvido para não beneficiar determinado grupo político. Elas optam em continuar no sofrimento, em negar o progresso para não quebrar os interesses partidários.
Considero o problema de Assunção um caso já muito avançado de fanatismo político, nesse caso da água, está sendo deixado para traz a maior marca do ser humano que é o instinto de sobrevivência, tudo em prol de um fanatismo ingênuo. E assim são muitas as causas e maior ainda o numero daqueles que insistem em não se unirem para nada e por nada.
Ironicamente, alguns falam em boa convivência, cumprimentar, bater um papo e quem sabe até tomar uma xícara de café. Não tenho nada contra uma boa conversa, tão pouco uma xícara ou duas de café, por sinal é uma combinação maravilhosa. Mas digo que ainda que pronunciemos milhares de conversas e bebamos juntos rios inteiros de café, se não tivermos o verdadeiro sentido da força e dos momentos certos da união verdadeira e necessária, de nada vai adiantar. Assunção está precisando da nossa parte de mais compromisso e consciência cidadã, de menos interesse individual e mais ação coletiva. Todo cidadão precisa se sentir um auxiliar da cidade e assim todos ganharão, mais empregos, mais educação e melhores condições de vida para um número cada vez maior de habitantes.
Tudo leva a crê que estamos diante da emergência de novos paradigmas culturais que possibilitem um modelo novo de sociedade, interessada pela sua cidade e desprovida de qualquer fanatismo, especialmente político, isso certamente ajudará a eliminar os nossos fracassos. Gostaria de aproveitar o momento para trazer oportunamente a essa discussão as palavras de Catherine Darbo-Peschanski, falando sobre o compromisso com a cidade:
“...a humanidade do homem prende-se à sua vinculação a uma comunidade e a cidade constitui a finalidade de toda comunidade. Segue-se que o ser incapaz de fazer parte de uma comunidade, e com mais forte razão, de uma cidade, ou o ser que não tem nenhuma necessidade de tal inserção porque se basta a se mesmo, classifica-se...entre os animais.”
Se não for assim, sempre restará uma grande cota de atraso, de um jeito ou de outro teremos um traço negativo da Estaca Zero. O caminho mais possível nessa luta é a junção entre família e a educação, por onde perpassam todos os saberes da sociedade, inclusive os políticos e o da vida em comunidade. Há uma necessidade que cada vez mais as famílias e os educadores de Assunção dediquem-se a implantar o interesse pela sociedade mais próxima e a anular qualquer fanatismo destruidor, mas para isso, é preciso arrancá-lo de dentro de se quando necessário, para que completamente desprovidos desse fenômeno, possamos realizar um futuro melhor para Assunção. Se fizermos isso, estaremos garantindo que pelo menos a futura geração estará livre dessa tradição maldita.
Talvez o que transmito hoje, como muitas que já transmiti, ainda não receba a compreensão e atenção que merece, mas tenho convicção de que estou dando a minha parcela de contribuição para que Assunção um dia se transforme, hoje ela apenas está sendo alterada, jamais transformada como deveria ser. A brilhante reforma urbana, mais prédios, ruas, avenidas, novas casas, entre outros acontecimentos, alteram, mas infelizmente não transformam. Isso porque a transformação de uma comunidade não emana de suas obras em tijolos mas sim, do interior do seu povo, da mentalidade alcançada pela sua comunidade, dos avanços, dos desafios superados, da capacidade de coletividade, da qualidade de vida ofertado e, emana principalmente, do amor das pessoas pela sua terra, pelo seu sublime torrão.
Mas não estou ficando louco, não sonho uma Assunção sem diferenças, até acho que elas são necessárias, sonho com a tolerância destas diferenças, sonho uma Assunção que saiba os momentos certos de separar mas também de juntar, defendo uma Assunção que possa ter por traz de todas as diferenças uma idéia maior de progresso e de evolução constante, independentemente de qual governo esteja ou estiver no poder, sonho uma Assunção onde o caráter das pessoas não seja medido pelas suas posições politicas, mas sim pelo seu nivél de cidadania.
Ame e abrace a sua cidade antes que seja tarde demais, antes que a nossa geração passe e deixe esse problema ainda maior para os nossos filhos e filhas, vamos urgentemente preparar uma cidade melhor com tempo de desfrutarmos nós também dela.
Assunção precisa romper barreiras, quebrar velhos dogmas políticos, antigos pré-conceitos. Isso nos separa do progresso, nos separou em 1964 quando por falta dessa mesma unidade os próprios moradores alguns conscientes e outros não, alimentados pela divisão assinaram pedido para que sua própria cidade voltasse a ser distrito, e nos separa ainda hoje.
Na verdade nós ainda não conseguimos ultrapassar a barreira do século XXI o qual não reserva mais espaço para esse tipo de pratica. Estamos presos no inicio do século XX nas épocas de maior ignorância política da Republica brasileira. Necessitamos caminhar para frente em disparada para tentar alcançar o presente e finalmente marcharmos para o futuro.
Faço aqui mais uma tentativa de transformação social em Assunção e apelo a todos aqueles que já conseguiram entender essa mensagem que nos unamos na busca de transformarmos Assunção em um lugar melhor e mais justo para todos nós do presente e do futuro.
Tenho certeza, de que se não o presente, com certeza o futuro se lembrará com generosidade da memória de todos aqueles que agora tentarem fazer essa nova história em Assunção. ESPECIAL: FANATISMO, ASSUNÇÃO E A EMERGÊNCIA DE NOVOS PARADIGMAS