Quando qualquer veículo
da imprensa faz manchete com a adesão de um grupo de políticos, com ou sem
mandato, a um determinado candidato, era de se esperar que a notícia informasse
aos e-leitores em que bases esse apoios são definidos. Mas não é isto o que
acontece. A tônica das adesões se resume ao número de votos que podem ser
somados nessas negociações.
Nenhuma linha é escrita
pelos articulistas sobre propostas políticas de tais enlaces entre os
candidatos e seus apoiadores. Nenhum questionamento é feito. Nenhuma dúvida é
levantada. Como se os políticos se aproximassem uns dos outros movidos apenas
pelo carisma, pela boa vontade com o bem comum da coletividade, pelo altruísmo
à moda de Comte.
O fato é que muitos
fatores encobrem as negociatas feitas por baixo dos panos nas sombras da noite.
A população brasileira não tem a tradição de valorizar os partidos políticos,
vistos desde a época do Império como “farinha do mesmo saco”, quando liberais e
conservadores se revezavam nos gabinetes sem nenhuma ruptura ou
descontinuidade.
No Brasil, prevalece o
personalismo político. As companhias, os parceiros e partidários dos candidatos
tem menos importância entre os critérios para a definição do voto. Por outro
lado, quando há corrupção eleitoral nos arranjos das alianças, a chamada
opinião pública sempre condena quem se vende vendendo os votos de terceiros,
mas nunca condena quem compra apoios, quem arremata votos no varejo.
A negociata funciona em
cascata. O chefe político arrebanha um punhado de agentes políticos que tem
correias de transmissão com nichos eleitorais através dos tradicionais cabos
eleitorais. E não falta quem se apresente como dono dos votos dos outros. Às
vezes ocorre uma espécie de leilão. Quem tem mais leva mais. - É uma feira!
Uma parcela do
eleitorado entra no jogo por duas des-razões. Por um lado observam que no geral
a vida dos políticos é bem mais aquinhoada do que a da imensa maioria do povo.
Por outro lado, há uma desinformação que infecta muita gente que crê piamente
que a cada eleição “vem uma verba” para os políticos gastarem com os eleitores.
Não existe mais ninguém
inocente porque os recursos para a boa informação estão disponíveis,
principalmente na rede mundial de computadores. Mas, num mundo onde impera o
instantâneo e a superficialidade, as empresas de comunicação contribuem
negativamente porque, na ânsia de fragilizar o Estado em favor do
neoliberalismo, descuidam da informação democrática e plural sobre a política.
Sem a boa informação,
fica como o diabo gosta. Os compradores e vendedores de votos fazem a festa. Os
eleitores desinformados, desesperançados e raivosos, se não são vítimas, são
presas fáceis nas garras dos políticos que não têm o chamado voto de opinião,
este sim nutrido no debate sobre as políticas públicas e as grandes questões
nacionais.