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7 milhões de brasileiros estão no Bolsa Família há mais de 10 anos — e continuam sem perspectiva de saída

Por Lázaro Farias

Mais de 7 milhões de brasileiros recebem o Bolsa Família há pelo menos uma década. O dado, revelado pelo Ministério do Desenvolvimento Social, representa 34,1% de todos os inscritos no programa e escancara uma contradição incômoda: embora o benefício seja essencial para combater a fome e a miséria, ele não tem conseguido, ao longo dos anos, cumprir uma de suas promessas centrais — a emancipação social.

Criado para ser uma ponte, o Bolsa Família parece ter se transformado em destino para milhões. Apesar de o governo afirmar que incentiva a saída voluntária dos beneficiários e adotar políticas complementares, os resultados não aparecem de forma concreta. A permanência prolongada no programa revela uma falha estrutural: a ausência de oportunidades reais de trabalho, renda e educação para que essas famílias possam caminhar com as próprias pernas.

A crítica não é contra o programa — que é, inegavelmente, um marco no combate à pobreza extrema no país —, mas contra a falta de políticas robustas que o complementem. Um bom exemplo dessa frustração foi a fala recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, ao discursar sobre o Bolsa Família, afirmou:

“O Brasil não pode viver eternamente de Bolsa Família.”

A frase evidencia que, mesmo dentro do próprio governo, há a consciência de que é preciso mais do que transferência de renda. O desafio é complexo, mas inadiável: como garantir que essas 7 milhões de pessoas tenham acesso à educação de qualidade, qualificação profissional e oportunidades no mercado de trabalho?

Hoje, o programa oferece valores variáveis, dependendo da composição familiar e da idade dos dependentes. Mas mesmo com os incrementos recentes, como o valor mínimo de R$ 600 e os acréscimos por filhos, o Bolsa Família ainda está longe de ser um caminho para o desenvolvimento. Ele impede a fome, mas não gera mobilidade social por si só.

É preciso ir além da manutenção da pobreza com dignidade. É necessário que o Estado, nas esferas federal, estadual e municipal, atue de forma integrada para transformar vidas — com políticas de habitação, acesso à tecnologia, incentivo ao empreendedorismo local e reformas na educação básica.

A transferência de renda é um alívio. Mas o Brasil precisa urgentemente construir a saída.

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