Entre a governabilidade e o desgaste: qual é a real situação de Lula para 2026?
Por Lázaro Farias
Luiz Inácio Lula da Silva iniciou seu terceiro mandato com um discurso de reconstrução nacional e pacificação institucional. Ele venceu as eleições de 2022 por margem apertada, em um país polarizado, e chega ao meio do governo enfrentando uma pergunta inevitável nos bastidores e nos palanques: Lula consegue se reeleger em 2026?
A resposta, longe de ser simples, pode ser analisada por três eixos: desempenho administrativo, ambiente político e cenário eleitoral.
📊 Governo entrega, mas não encanta
Do ponto de vista da gestão, o governo Lula tem feito entregas concretas. A inflação caiu, o desemprego segue em queda, e programas sociais foram fortalecidos. O novo PAC colocou o investimento público de volta à pauta e obras estratégicas começaram a sair do papel.
Apesar disso, a comunicação não acompanha as entregas. O governo parece ter dificuldade em transformar resultado em narrativa. O carisma de Lula ainda é um ativo, mas já não gera o mesmo impacto de outros tempos — especialmente entre os mais jovens e nos grandes centros urbanos.
Uma base instável e uma oposição reorganizada
O presidente montou uma coalizão ampla, que vai da esquerda ao centrão, e tem conseguido aprovar pautas importantes no Congresso. Mas a base é barulhenta, fragmentada e imprevisível. O risco de ruídos é constante.
Ao mesmo tempo, a oposição está em fase de reorganização. Com Jair Bolsonaro inelegível, nomes como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado emergem como alternativas viáveis para o campo conservador.
Essa possível ausência de Bolsonaro em 2026 pode ser, paradoxalmente, um problema para Lula. Com o ex-presidente na disputa, Lula aparece como figura moderadora, símbolo de estabilidade frente aos excessos e radicalismos do bolsonarismo. Sem Bolsonaro no jogo, a eleição tende a ser menos passional e mais racional, o que enfraquece a principal moldura emocional da campanha lulista: a ideia de que ele seria a "salvação do Brasil".
Candidato moderado pode vencer
Se a direita apresentar um candidato moderado, com discurso técnico e apelo popular, o caminho de Lula à reeleição pode se tornar mais difícil. Em disputas menos polarizadas, o presidente perde o papel de contraponto moral ao extremismo, e precisa disputar voto no mérito da gestão — terreno onde há mais desgaste do que entusiasmo.
Por isso, um adversário sereno pode ser mais perigoso para o PT do que o próprio Bolsonaro. Com ele no jogo, Lula cresce como reação. Sem ele, o país pode querer virar a página — de ambos.
2026 ainda está em construção
Embora o debate eleitoral já esteja em movimento nos bastidores, a eleição de 2026 ainda carrega muitas variáveis abertas. Lula segue com a vantagem de estar no poder, mas também com o peso que isso traz. A máquina pública é uma aliada poderosa, mas o desgaste natural do governo, as frustrações acumuladas e a falta de uma narrativa mobilizadora podem cobrar seu preço.
A reeleição é possível — mas dependerá não só da economia, das alianças e da entrega concreta de políticas públicas, como também do perfil do adversário. Em um cenário onde a polarização cede espaço ao pragmatismo, Lula pode deixar de ser o antídoto e passar a ser cobrado como parte do problema.
Por ora, Lula está no jogo. Mas não está com a vitória na mão.