A pouco mais de 8 meses das eleições municipais, os partidos intensificam as articulações para escolha de seus candidatos a prefeito. Na maioria das cidades da Paraíba, famílias tradicionais praticamente definiram consensualmente seus representantes, mas em outras não há acordo e parentes devem se enfrentar nas urnas em 2 de outubro deste ano. Um caso emblemático é Catolé do Rocha, no Sertão da Paraíba. Todavia, o futuro prefeito certamente terá o sobrenome Maia.
O atual prefeito Leomar Maia (PTB) já avisou que vai concorrer ao 5º mandato à frente do Poder Executivo . Pela oposição, o ex-prefeito Lauro Maia (PMDB) lançou ainda no São João ano passado, durante uma reunião, sua postulação contra o primo Leomar. Lauro acredita que este ano é a vez de disputar a prefeitura. Em 2008, ele aceitou a indicação e foi candidato a vice na chapa de Lauro Adolfo Maia, sendo derrotado. Em 2012, trabalhou para Paulo César de Araújo, mas também não obteve êxito. Em 2016, ele não abre mão de concorrer à prefeitura com o apoio do governador Ricardo Coutinho (PSB) e do senador José Maranhão (PMDB).
Já o prefeito Leomar Maia conta com o apoio do senador Cássio Cunha Lima (PSDB) e do deputado federal Marcondes Gadelha (PSC). Em Catolé do Rocha, os seis principais partidos – PSDB, PTB, DEM, PSB, PSD e PMDB- são comandados por integrantes da família Maia. Nas últimas décadas, os grandes adversários dos Maia foram os ex-deputados Frei Marcelinho (já falecido) e Francisco Evangelista. Esse não tem mais pretensões políticas na cidade.
Em Cubati, no Curimataú paraibano, a disputa poderá ser entre o atual prefeito Eduardo Dantas (PMDB) e o primo Gilton Dantas (PMN). Os primeiros provavelmente vão se enfrentar também em São João do Cariri. O ex-prefeito Beto Medeiros (PTB), como o apoio do pai, o ex-deputado Pedro Medeiros, deve bater chapa com Mateus Medeiros (PR), filho do ex-prefeito Marcone Medeiros. No município de Taperoá, poderá haver a revanche entre os primos com o prefeito Jurandi Gouveia Farias (PMDB), enfrentando Socorro Farias (PSDB). A briga deve ser intensa.
Uma terapia de (ex)casal do Conde
No município do Conde, no Litoral paraibano, o casal Aluísio Régis/Tatiana Corrêa se separou judicialmente e briga agora pela pelo comando do Poder Executivo local. “Vou apresentar novamente meu nome à consideração dos condenses. O trabalho que iniciamos precisa ter continuidade”, afirmou o líder oposicionista, que dá nota zero à gestão da ex-mulher.
Aluísio governou aquele município de 2004 a 2012. Ele diz que passou 96 meses na gestão e não atrasou um dia sequer o pagamento de funcionários, diferentemente, segundo ele, da atual gestão. Régis ainda denuncia a falta de medicamentos nos postos de saúde e os dentistas não atendem.
Tatiana evita bater de frente com o ex-marido, mas seus aliados propagam que Aluísio Régis é ficha-suja e não pode disputar as eleições por conta de processos e contas rejeitadas. As acusações levaram Aluísio a convocar uma entrevista coletiva para apresentar cópia de certidão negativa emitida pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, datada do dia 31 de agosto, a qual informa que o mesmo está quites com a Justiça Eleitoral.
No meio da briga entre ex-marido e ex-mulher, surgiu a ex-secretária de Educação do Estado, Márcia Lucena (PSB). Ela tem o apoio do governo e também do Padre Severino, que foi candidato a prefeito em 2012 pelo PP. Ao anunciar o nome da pré-candidata, o Padre Severino conclamou todas as lideranças de oposição no Conde “a engrossarem fileiras pela reconstrução do município”.
LOTEAMENTO
A disputa entre parentes pelo poder local não deixa de demonstrar que os municípios da Paraíba vão continuar sendo um loteamento feudal de famílias políticas. A análise é do cientista político e professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Fábio Machado.
Para ele, podem ser apresentados até novos nomes, no entanto os postulantes a prefeito são de uma família tradicional que já administrou a cidade. “Eu não tenho dúvidas de que o feudo familiar vai continuar nas próximas eleições, pois aparelha a prefeitura e intervém na economia e vida social da cidade com práticas conservadoras e reacionárias”, ressalta Fábio.
O cientista político afirma que esta instrumentalização do poder político tem origem na família patriarcalcolonial, matriz da formação do Estado brasileiro, e que se reproduz através dos séculos. Para Fábio Machado, a permanência das famílias no poder é causada pela precariedade social.
JP