* Lázaro Farias
A violência tem nos causado medo, terror, estamos todos em pânico. Cobramos uma solução e nos desesperamos, quando percebemos que estamos longe de resolver o problema.
Resumimos tudo a falta de efetivo policial, e concentramos nisso nossas pobres reivindicações, quando raramente as fazemos.
Ter policiais nas ruas é importante, não resta dúvida, mas é seguramente a menor parte para alcançarmos a resolução do problema de falta de segurança no Brasil, não se assustem, mas insisto, é a menor parte.
A segurança pública está dentro de um conjunto tão maior, que a olho nu, jamais pode ser visto. Envolve pelo menos três eixos fundamentais: educação, infraestrutura e economia.
Impossível encontrar a saída para os problemas de segurança pública, numa nação como o Brasil, sem educação de qualidade. Nossas crianças dispõem de professores que recebem uma formação mediana, muitas vezes em faculdades de procedência duvidosa e estudando apenas aos sábados, isso não é culpa dos educadores, ao contrário, são vítimas também.
O quadro se agrava com os prédios escolares degradantes, nos quais meninos e meninas são depositados todos os dias, alguns com precariedade total, outros apenas com as condições mínimas, sendo que num ou noutro cenário, a superlotação é regra.
Nesse ambiente, onde nossas crianças se tornam adultos pouco competitivos, diante de um mundo globalizado, se firma a primeira base para o problema de segurança pública, já que muitas inevitavelmente por razões que ficarão mais claras adiante, se tornarão desafortunadas, alguns seguramente irão para o crime.
Na falta de infraestrutura, nasce a segunda base do crime. As crianças que frequentam todos os dias essa escola descrita acima, retornam (maioria) para ambientes ainda mais insalubres do ponto de vista social e econômico. Lugares onde não existe água tratada, coleta de lixo e esgoto.
Estudos da Fundação Getúlio Vargas e do instituto Trata Brasil, revelaram que pelo menos 100 milhões de pessoas convivem com a falta de um desses serviços básicos aqui no Brasil. Nas pequenas e grandes cidades existem inúmeras pessoas vivendo assim, nas chamadas favelas.
Nesse instante da leitura, eu devo está recebendo a critica de alguns leitores, por ter escrito a palavra "favela", haja vista soar melhor e politicamente correto, chamar um lugar que falta tudo, de "comunidade", aderindo assim ao marketing do governo brasileiro, produzido para esconder uma realidade cruel.
Virou moda na atualidade, pintar barracos com as cores do arco-íres, firmar acordos publicitários milionários, para gravar novelas nas favelas, legitimando a sensação de que se trata de um lugar como qualquer outro. É MENTIRA, estamos falando na verdade de um ambiente onde os direitos sociais são negados, onde a ação do estado não chega e as pessoas de bem, convivem com um governo paralelo, formado pelo crime organizado, que agencia todos os dias, crianças para o tráfico, pequenos cidadãos que poderiam mudar o Brasil para melhor. É nessa realidade, que é fincado o segundo pilar do mundo do crime. A fragilidade humana faz o resto.
E por fim, o tripé que sustenta o crime se completa, com a falta de uma economia equitativa, justa, igual para todos. Um país rico, sem oportunidades, que preservou e preserva em todos os momentos de sua história, uma legião de desempregados, hoje de 12 milhões de pessoas, no passado um pouco menos, mas sempre presentes, a maioria vai vivendo do jeito que pode, mas uma minoria trilha certamente, o caminho do crime.
Se alguém tiver chegado até aqui, (visto que nossa formação deficitária não nos permite ler e nem escrever textos com mais de dez linhas), percebam, por favor, que resolver a falta de segurança pública, é algo que demanda um plano estratégico e de longo prazo.
Aumentar o número de policiais nas ruas não resolve nada, pois o crime se multiplica ainda mais rápido. Nós precisamos é dar dignidade as pessoas, possibilitar escolas de primeiro mundo com tempo integral, acabar de vez com todos os ambientes insalubres, substituir as favelas por verdadeiras comunidades, com moradias dignas e toda a estrutura necessária, criar uma política econômica justa, inclusiva, no lugar de um falido Bolsa Família.
Feito isso, os policiais existentes já estarão em grande quantidade, fazendo parte de uma corporação com função totalmente diferente de hoje, meramente educativa, ajudando crianças e idosos atravessarem a rua, e outras coisas do tipo, porque a quantidade de bandidos seria muito resumida.
É sonho? Você não acredita nisso e nem está disposto a lutar? Pois saiba que muitos países do mundo já avançaram, até mais pobres do que nós. Mas se prefere pensar assim, reforce a tranca da sua porta, pois o ladrão está chegando.
* Professor de História e Jornalista