Por 6 votos a 5, o
Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (7) derrubar a possibilidade
de prisão de
condenados em segunda instância,
alterando um entendimento adotado desde 2016.
Na quinta sessão de julgamento sobre o
assunto, a maioria dos ministros entendeu que, segundo a Constituição, ninguém
pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado (fase em que não cabe
mais recurso) e que a execução provisória da pena fere o princípio da presunção
de inocência.
O voto de desempate foi dado pelo
presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli, o último a se manifestar.
A aplicação da decisão não é automática
para os processos nas demais instâncias do Judiciário. Caberá a cada juiz
analisar, caso a caso, a situação processual dos presos que poderão ser
beneficiados com a soltura. Se houver entendimento de que o preso é perigoso,
por exemplo, ele pode ter a prisão preventiva decretada.
A decisão pode
beneficiar o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba e
cuja sentença ainda não transitou em julgado, e cerca de 5 mil presos, se não
estiverem detidos preventivamente por outro motivo.
Após o julgamento,
a defesa de Lula informou que levará à Justiça nesta sexta-feira um pedido de
soltura com base no resultado do julgamento do STF
COMO VOTARAM OS
MINISTROS
A FAVOR DA 2ª INSTÂNCIA
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CONTRA A 2ª INSTÂNCIA
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Alexandre de Moraes
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Marco Aurélio Mello
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Edson Fachin
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Rosa Weber
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Luís Roberto Barroso
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Ricardo Lewandowski
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Luiz Fux
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Gilmar Mendes
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Cármen Lúcia
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Celso de Mello
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Dias Toffoli
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Fonte: Supremo
Tribunal Federal
Sem liberação 'automática'
Encerrado o
julgamento, o presidente do STF, Dias Toffoli, disse que o Congresso pode
alterar o artigo 283 do Código de Processo Penal para determinar em que momento
haverá a prisão em caso de condenação.
O ministro Edson Fachin,
relator da Operação Lava Jato no STF, disse que não haverá
"liberação automática" de presos em segunda instância.
Ele afirmou ainda que "de modo
algum" haverá prejuízos no combate à corrupção.
"Do ponto de vista do combate à
corrupção, lavagem de dinheiro, deixamos de ter um mecanismo relevante, em meu
modo de ver, constitucional. Mas isso não significa que todos os esforços para
que haja o devido combate, nos termos da Constituição, deixarão de ser
feitos", acrescentou.
A decisão
Com a decisão, ninguém
poderá ser preso para começar a cumprir pena até o julgamento de todos os
recursos possíveis em processos criminais, incluindo, quando cabível, tribunais
superiores (Superior Tribunal de Justiça, STJ, e STF). Antes disso, somente se
a prisão for preventiva.
A decisão tem efeito “erga omnes”, ou seja,
vale para todas as instâncias do Judiciário e será vinculante, de cumprimento
obrigatório.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 5 mil
presos podem ser beneficiados pela
mudança de entendimento, se não estiverem presos preventivamente por outro
motivo. Levantamento do Ministério Público Federal a decisão do STF pode
beneficiar 38 condenados na Operação Lava Jato.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
pode obter liberdade, já que ainda cabem recursos da condenação dele no caso do
triplex em Guarujá (SP). Essa decisão caberá à Justiça Federal do Paraná. Nos
casos do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e do ex-governador do Rio de Janeiro
Sérgio Cabral, entretanto, a mudança de entendimento do STF não os tira da
cadeia.
No julgamento, os ministros apreciaram três ações declaratórias de
constitucionalidade, apresentadas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e
pelos partidos PCdoB e Patriota.
Desde 2016, a Corte autorizou a prisão após
segunda instância quatro vezes, mas a análise de mérito das ações permanecia em
aberto.
Por isso, juízes e até ministros do STF
vinham decidindo de forma divergente sobre essas prisões. Agora, será obrigatório
seguir o entendimento do Supremo.
G1