CMJP

ALPB

COLLOR: ENTRE A LAMBORGHINI E O CÁRCERE — O PREÇO DE UMA VIDA ILUSÓRIA

Por Lázaro Farias

Arnon de Mello costumava dizer que “o que não vem em maio, vem em setembro”, uma lição simples e brutal sobre a inevitabilidade dos acertos de contas da vida. Mal sabia ele que a máxima cairia com precisão cirúrgica sobre o próprio filho: Fernando Collor de Mello.

Primeiro presidente eleito no recomeço democrático, também foi o primeiro a tombar sob o peso da corrupção e da vaidade. Trinta anos depois, o ciclo se fecha de maneira simbólica e amarga. Collor, que iniciou sua escalada política como prefeito de Maceió, hoje encara a solidão de uma cela em sua cidade natal, cumprindo pena por corrupção.

Seu declínio não foi imediato. Houve tempo para desfiles de riqueza: Lamborghini na garagem, mansões luxuosas, gestos de um novo-riquismo que, no fundo, não conseguiam mascarar a pobreza de espírito. Collor trocou o cavalo do ditado popular pela ostentação de carrões importados — mas o destino, implacável, não se deixou comprar.

É curioso (ou trágico) notar que ele teve todas as chances de reescrever a própria história. Em 1994, o Supremo Tribunal Federal lhe entregou uma anistia de ouro. Poderia ter entendido o recado e seguido outro caminho. Mas preferiu reafirmar seus velhos instintos: aliar-se ao poder fácil, ao dinheiro sujo, aos acordos escusos. Collor não aprendeu nada. Mais que isso: parece nunca ter esquecido a cartilha de desmandos que ensaiou nos tempos de Paulo César Farias, seu parceiro de tráfico de influências, morto em 1996 sob circunstâncias que cheiram a queima de arquivo.

Enquanto PC cuidava dos bastidores, extraindo fortunas de cofres públicos e privados, Collor encenava o espetáculo. Não se importava com a origem do dinheiro. Sua única preocupação era garantir que o caixa fosse suficiente para bancar sua fome de luxo, poder e reverência. Uma combinação explosiva de ganância e delírio que, como a história mostrou, não poderia terminar de outra forma.

Hoje, condenado a mais de oito anos de prisão, Collor vê a vida lhe apresentar a conta que evitou durante décadas. A mesma megalomania que o levou a sonhar, ainda criança, em usar meias vermelhas de cardeal, agora o empurra para um uniforme comum de presidiário.

O “maio” e o “setembro” a que seu pai se referia nunca foram apenas metáforas. Eram um aviso. Collor, na sua arrogância, ignorou todos eles.

A vida não perdoa a soberba eterna. Mais cedo ou mais tarde, ela volta — às vezes em silêncio, às vezes aos gritos — para ensinar que até os donos do mundo precisam pagar suas dívidas.

E algumas, como vemos agora, são impagáveis com dinheiro.

Fontes consultadas para construção desse artigo de opinião:

G1, Folha de S.Paulo, O Globo, Valor Econômico e informações históricas de domínio público sobre o governo Fernando Collor, o processo de impeachment de 1992, a parceria com Paulo César Farias e a recente condenação criminal do ex-presidente.

Next Post Previous Post
No Comment
Add Comment
comment url

Veja mais: