Batizar Bonecas Reborn? Onde Está a Fronteira Entre Afeto e Exagero?

A internet não cansa de nos surpreender. Entre modas inofensivas e comportamentos no mínimo curiosos, surgiu nos últimos tempos uma onda que reacende um debate necessário: onde termina o saudável e começa o exagero? A polêmica da vez envolve os bonecos reborn — réplicas realistas de bebês humanos — e práticas que envolvem uma quase “espiritualização” desses objetos.

O alerta foi dado pelo influenciador e sacerdote Padre Chrystian, que precisou, com todas as letras, informar seus 3,6 milhões de seguidores que não realiza batizados, missas, catequeses ou orações para bonecas. Sim, você leu certo. De forma irônica, mas objetiva, o padre citou situações inusitadas, como mães de bonecas pedindo catequese e até missas de sétimo dia para “bebês reborn que arriaram a bateria”.

Por trás do humor do comunicado está um ponto sério: o quanto a carência afetiva, emocional ou espiritual tem sido alimentada por relações substitutivas com objetos? Até que ponto uma boneca — por mais bem-feita e realista que seja — pode preencher vazios profundos?

A cultura dos bonecos reborn não é nova e tem, sim, um lado terapêutico. Algumas pessoas os utilizam no luto, outras em tratamentos psicológicos. Mas quando essa relação ultrapassa o campo emocional e começa a invadir o religioso, talvez seja hora de repensar os limites. A fé, afinal, é construída sobre vínculos reais, vivências humanas e espiritualidade autêntica — não sobre simulacros.

A crítica do padre pode até soar ácida, mas toca num ponto sensível da sociedade atual: o avanço de comportamentos que tentam transformar o simbólico em real, como se fosse possível substituir o humano por uma imitação. E nesse caminho, corremos o risco de banalizar tanto a religião quanto a saúde mental.

Em tempos de redes sociais e influenciadores digitais, é urgente a reflexão: estamos cultivando conexões genuínas ou nos apegando a fantasias para lidar com dores que precisam ser enfrentadas de verdade?

No fim das contas, a pergunta não é sobre batizar bonecas. É sobre o que estamos tentando curar com elas.

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